Este é o primeiro post de uma série em que converso com quem estuda e pensa a relação Executivo-Legislativo no Brasil. Tenho visto muitos analistas políticos apressados em descartar certos aparatos teóricos — alguns já declararam até o fim do presidencialismo de coalizão — sem que antes entendamos como esses modelos realmente funcionam na prática e em quais condições eles explicam (ou deixam de explicar) o que acontece no país.
Para iniciar essa série, trago reflexões do sociólogo Celso Rocha de Barros, autor de PT, uma história. Se você ainda não leu, recomendo muito — é um livro fundamental para entender o Partido dos Trabalhadores (PT). Aliás, espero que haja uma sequência, já que muita coisa aconteceu desde a sua publicação.
Foi um grande prazer finalmente falar diretamente com Celso. Na nossa conversa, ele trouxe dois pontos que me fizeram pensar bastante sobre os desafios do governo Lula III.
Primeiro, ele apontou a dificuldade que o PT enfrenta para formar coalizões com partidos e parlamentares que flertaram com o golpismo na transição entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. "Como negociar com quem, até outro dia, apoiava a ruptura democrática? “Isso fica como uma sombra sobre qualquer esforço de negociação”, ele pontua.
Segundo, Celso destacou algo que muitas vezes ignoramos: os problemas que o Brasil enfrenta hoje são estruturalmente mais complexos do que antes. Não existem mais soluções relativamente fáceis como o Bolsa Família ou o Plano Real, capazes de gerar resultados rápidos e amplo apoio político.
E, para fechar, ele faz um alerta: diante desse quadro e da reorganização partidária em curso no Brasil, existe hoje a possibilidade real de a esquerda desaparecer como força política relevante. Difícil imaginar num país que elegeu tantos governos de esquerda (ou centro-esquerda), mas é um cenário que não pode ser ignorado.
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